quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Os girassois de Van Gogh*

Hoje eu vi
Soldados cantando por estradas de sangue
Frescura de manhãs em olhos de crianças
Mulheres mastigando as esperanças mortas

Hoje eu vi homens ao crepúsculo
Recebendo o amor no peito.
Hoje eu vi homens recebendo a guerra
Recebendo o pranto como balas no peito.

E, como a dor me abaixasse a cabeça,
Eu vi os girassois ardentes de Van Gogh

* sobre meu estado de espírito após o 7/jan/15 francês, a estupidez humana, a falta de delicadeza, de respeito, o humor profanador, ofensivo, eurocêntrico, a ausência de cuidado, de gentileza, de alteridade, e, é lógico, a violência desmedida, covarde e injustificável que daí advém, como reação infame, que justifica o fosso cada vez maior, que faz um imbecil que alardeia o choque de civilizações passar a ter razão... Um ciclo vicioso, uma grande armadilha sem volta, uma espiral de estupidez e violência, estimulada pela mídia, que nos coloca, nós, a humanidade, cada vez mais degradada, longe dos ideais da dignidade humana, mais próximos ao esfacelamento de uma possível comunidade, de uma congregação organizada em torno de valores ontológicos. Esse caos que só serve ao 1%, ao 0,1%... Em nome da liberdade de expressão? Não, não em meu nome, não vou ser instrumentalizado. Todo direito, toda liberdade, impõe uma medida e uma responsabilidade. Sou pacifista. Não vou defender meus direitos atacando minorias. E obviamente vou deplorar a violência e me solidarizar com as vítimas da barbárie e defender a liberdade. Estou cansado de tantos imbecis opinativos, dessa profusão de achismos solenemente vulgares. Vamos ler, e refletir sobre, Manoel de Barros, diante dessa infame escalada de non-sense, é o que nos resta! 

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